Já faz sete anos que, em meio a muitas promessas de nunca deixarmos de nos ver, meus amigos de turma e eu concluímos o último ano do ensino médio. Posso dizer orgulhosamente que tentamos, e que durante um ano, pouca coisa havia mudado. Saíamos juntos, sabíamos da vida uns dos outros e frequentávamos as festas de aniversário de todos do grupo. Não sei dizer quando tudo mudou, quando já não saíamos mais, quando perdemos os números de telefone ou quando esquecemos as datas dos aniversários. Parece que foi ontem, mas em sete anos muita coisa mudou. Muita gente se formou, alguns poucos trocaram de cidade, muitos casaram e outros, mesmo sem casar, tiveram filhos. Apesar da amizade sincera, meus amigos de turma e eu nunca tivemos os mesmos interesses. Não gostávamos dos mesmos filmes, das mesmas músicas, dos mesmos livros. Apesar de sempre ter sido o mais estranho, era muito bem aceito e compreendido. Hoje vejo o quanto essa separação foi natural. O que nos unia era o colégio e se não há interesses em comum, nada mais normal que essas pessoas – “obrigadas” a conviver juntas todos os dias – se separem com o tempo. Uma vez distantes, a diferença acentuada de gostos fez com que nunca mais nos encontrássemos nos locais públicos. Afinal, não frequentamos os mesmos lugares. É comum ver, quase todo final de semana, fotos de alguns deles nas redes sociais em algum dos muitos shoppings da cidade. Como não gosto de shopping, nunca nos esbarramos. Também não frequentamos os mesmos cinemas, e nem comparecemos aos mesmos shows das bandas que visitam a cidade. A universidade também não se transformou em um ponto de encontro. Como absolutamente ninguém da minha turma, além de mim, decidiu viver de arte, meu campus sempre ficou isolado até mesmo dos que cursaram a mesma universidade que eu. Apesar disso, quando menos espero, encontro alguém em algum ônibus da vida. Encontramo-nos sempre em movimento. Às vezes, no mesmo ônibus, um está indo e o outro voltando. O local não ajuda. A conversa é sempre rápida e superficial. Isso quando há conversa. Não raro alguém finge não me reconhecer para evitar uma conversa forçada entre duas pessoas que não estão nada interessadas no que a outra tem para dizer. Não os censuro, pois eu também faço isso de quando em vez. Quando conversamos, podemos sentir que o carinho ainda está ali, pairando entre nós, mas é só isso, um carinho nostálgico. As conversas sempre orbitam entre o presente (para nos atualizarmos das vidas uns dos outros) e do passado (para revivermos boas lembranças). Perguntamos sempre por alguém, na esperança de obter alguma notícia. Sete anos ainda não foi o suficiente para realizar muitas mudanças físicas. Todo mundo ainda está meio igual. Com exceção dos galãs da turma, que hoje não fazem mais sucesso nem dentro do ônibus. Isso é muito curioso. De toda forma, preciso olhar duas vezes para me certificar de que não estou vendo a pessoa errada. Isso quando dá tempo. É tudo muito rápido. Estamos sempre indo e vindo, ocupados em viver nossas vidinhas. Não raro tenho a sensação de ver alguém conhecido quando estou próximo de descer do ônibus; quando vou ver, já foi.
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ponto de encontro
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Postado em escriba
Postado por Satãnatório em 19 de setembro de 2017
https://satanatorio.wordpress.com/2017/09/19/ponto-de-encontro/
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Próxima quinta (21), vai rolar exibição gratuita de A ÉTICA DOS DIABOS DE TODOS OS TIPOS CONTRA OS DEUSES DE TODOS OS NAIPES na mostra Calor Humano. A mostra será realizada às 13h30 no auditório da Biblioteca Central do Campus do Pici.Estudando o Método de Fátima Toledo em uma manhã fria de dezembro."Eu acreditava que, sendo um grande leitor, ninguém jamais sentiria pena de mim por eu estar constantemente sozinho. O livro me protegia da piedade dos outros." / "Como o alcoólatra, que ao comprar a garrafa já se tranquiliza, ter um livro comigo desacelerava as palpitações do meu coração." / "Eu nunca me curei de acreditar que toda relação sexual marca o começo de um namoro." / "Que paixão perturbadora desperta no homem a inteligência de uma mulher." / "Sexo é improviso! Qualquer analfabeto se faz professor no ato mesmo em que aprende." / "Todo mundo tem direito a um momento de mediocridade: descansa do esforço, ajuda a relaxar, facilita a adormecer e nos coloca de volta ao mundo onde a maioria vive." / "Escrever um livro é talvez a missão mais exigente entre todas as chatices que a humanidade inventou para se aborrecer." / "A precisão com que o acaso pode maltratar uma pessoa tem requintes de crueldade." / "Pessoas como eu, nascidas entre as mais favorecidas da sociedade, acreditam que a violência começa quando nos atinge. Convém-nos esquecer que o tsunami nasce no terremoto que o antecede. Antes de nos alcançar, a violência maltrata duramente a quem nos agride. A primeira vítima não somos nós; são eles, a quem é negado o ingresso na sociedade desde o nascimento." / "Ferida de amor novo cura fácil." / "Eu não sei o que fazer quando estou triste; então, desentristeço rápido e começo logo a pensar num modo de vencer!" / "O amor constrange quem não está acostumado a ele."98 anos de Clarice.As manhãs de dezembro existem para finalizar as leituras que ficaram pelo meio do caminho durante o ano."Quando descobri que poderia me expressar com guitarra, vocais e letra, tudo mudou, cara. Ganhei uma arma. Ganhei uma voz. Ganhei uma nova maneira de pensar."HISTÓRICO
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